O Planeta Viral
A
primavera estava quase a chegar. Os passarinhos chilreavam felizes enquanto
comiam as migalhas espalhadas no jardim. O sol brilhava, sorridente, e o vento
soprava, devagarinho, enquanto empurrava as últimas folhas caídas no chão. Os
meninos brincavam felizes no recreio da escola, as pessoas iam trabalhar e a
vida corria normalmente.
Até
que, num dia como outro qualquer, os canais de televisão começaram a falar de
uma doença terrível que tinha aparecido num país muito distante do nosso. Os
jornalistas diziam que se tratava de um vírus muito mau e que matava muitas
pessoas porque era contagioso. «De certeza que isso não vem para o nosso
país…», pensaram as pessoas erradamente.
Dali a pouco tempo, o vírus
maldito já se tinha espalhado pelo mundo todo. Para se protegerem, os meninos
começaram a estudar em casa. Os pais passaram a trabalhar também em casa e os
hospitais ficaram cheios de doentes.
De repente, só se ouvia falar no
«Coronavírus», numa «pandemia» e em «quarentena», e que o mundo estava «parado»
com as pessoas todas fechadas em casa.
- Mamã, por que razão temos de
ficar em casa de quarentena? O que é isso?
– perguntou o Tiago, muito preocupado.
- A quarenta é um período em que
todos devemos ficar em casa para assim podermos evitar a transmissão do vírus.
Para que o vírus não se espalhe, todos devem ficar isolados e só sair de casa
em caso de necessidade. – explicou a mãe.
- Olha, mamã, diz aqui no
dicionário que «pandemia» significa «surto de uma doença com distribuição
geográfica internacional muito alargada e simultânea.» O que é que isto quer
dizer? – perguntou o Tiago, muito curioso.
- Significa que a doença apareceu
de forma muito rápida e que, de repente, houve um aumento muito grande de
pessoas infetadas com o vírus em todo o mundo! – respondeu a mãe.
- Oh! Isto é preocupante! Haver
tantas pessoas infetadas em todo o mundo! Se eu pudesse, arranjava maneira de
destruir este vírus e de levá-lo daqui para fora! – resmungou o Tiago.
- Não te preocupes, Tiago. Só
temos de ficar em casa enquanto os cientistas tentam arranjar uma vacina e
controlar a doença. Vamos todos ficar bem… - sossegou a mãe.
As
palavras da mãe ficaram a ecoar no ouvido do Tiago, e ele só pensava que tinha
de arranjar maneira de acabar com o vírus. Enquanto pensava nisto, adormeceu e
teve um sonho.
Sonhou
que era astronauta e que tinha um foguetão. «Vou apanhar o vírus maldito e vou levá-lo
no meu foguetão para um planeta distante, o «Planeta Viral». No mundo dos
sonhos, o «Planeta Viral» é a casa de todos os vírus maus que fazem com que as
pessoas adoeçam.
Depois
de vestir o fato de astronauta, o Tiago partiu em busca do vírus espalhado por
todo o mundo. Aterrou o foguetão em todos os continentes e, com a «Sugadora»,
conseguiu apanhar todos os vírus. A «Sugadora» era uma máquina inventada por um
cientista muito conhecido, chamado Alberto Stein, e a quem o Tiago pediu
conselhos antes de embarcar na aventura de sugar todos os vírus do mundo.
Já
com todos os vírus presos na máquina, partiu para o espaço. Durante a viagem,
viu muitos planetas e estrelas. Para trás, conseguia avistar o Planeta Terra,
pequenino e triste.
«Alegra-te,
Planeta Terra! Daqui a nada já me livro destes vírus malditos. Diz às pessoas
que VA-MOS-TO-DOS-FI-CAR-BEM!»
Enquanto
gritava estas palavras, chegou ao terrível planeta dos vírus. O Planeta Viral
só tinha rochas e um anel transparente a toda à volta no qual viviam os vírus.
Aterrou o foguetão e pegou na «Sugadora» com todo o cuidado. A máquina tinha um
grande tubo por onde passavam os vírus. «Agora só tenho de enfiar a outra ponta
do tubo no anel e iniciar a descarga. Três, dois, um… desapareçam!»
Não
demorou muito até que o anel se enchesse de novos vírus. Eram todos feios,
redondos e com uma espécie de tentáculos. Eram tantos e tantos que parecia que
o anel ia explodir. Estavam todos à bulha uns com os outros. Uns eram mais
fortes do que outros e, por isso, os mais fracos acabavam por morrer.
«Morram,
malditos! Agora vou embora para o meu Planeta Terra e, se tornarem a surgir novos
vírus, podem ter a certeza que venho trazê-los aqui, porque o vosso lugar é aqui
no Planeta Viral! Deixem o Planeta Terra em paz!».
E
o foguetão lá partiu, em direção à Terra, mas quando se preparava para aterrar…
pumba! Ouviu-se um estrondo no ar e o Tiago acordou.
-
Mamã, mamã! – gritava enquanto procurava a mãe. Tive um sonho que parecia real!
-
Então, que sonho foi esse? – perguntou a mãe.
-
Sonhei que tinha conseguido apanhar todos os vírus do mundo e que os tinha
levado para um planeta distante no meu foguetão. – explicou o Tiago muito
entusiasmado.
-
Olha que boa ideia! Mandar os vírus para outro planeta! – disse a mãe sorrindo.
-
No meu sonho tinha uma máquina, a «Sugadora», que sugava e apanhava todos os
vírus.
-
Olha, eu não tenho uma «sugadora», mas tenho um aspirador que é quase a mesma
coisa. E se me viesses ajudar a aspirar o teu quarto? – perguntou a mãe.
-
Sim, mamã. Já vou…
E
enquanto ajudava a mãe a arrumar o quarto, o Tiago continuava a pensar na
invenção do cientista Alberto e em como seria bom se houvesse uma máquina no
mundo que aspirasse tudo o que faz mal às pessoas: os vírus, as doenças, a fome
no mundo, as guerras…
Como seria bom se houvesse uma
máquina que nos devolvesse os beijos, os abraços e a liberdade.
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