sexta-feira, 27 de março de 2020

Desenho e texto do Tiago Carvalho





O Planeta Viral

                A primavera estava quase a chegar. Os passarinhos chilreavam felizes enquanto comiam as migalhas espalhadas no jardim. O sol brilhava, sorridente, e o vento soprava, devagarinho, enquanto empurrava as últimas folhas caídas no chão. Os meninos brincavam felizes no recreio da escola, as pessoas iam trabalhar e a vida corria normalmente.
          Até que, num dia como outro qualquer, os canais de televisão começaram a falar de uma doença terrível que tinha aparecido num país muito distante do nosso. Os jornalistas diziam que se tratava de um vírus muito mau e que matava muitas pessoas porque era contagioso. «De certeza que isso não vem para o nosso país…», pensaram as pessoas erradamente.
Dali a pouco tempo, o vírus maldito já se tinha espalhado pelo mundo todo. Para se protegerem, os meninos começaram a estudar em casa. Os pais passaram a trabalhar também em casa e os hospitais ficaram cheios de doentes.
De repente, só se ouvia falar no «Coronavírus», numa «pandemia» e em «quarentena», e que o mundo estava «parado» com as pessoas todas fechadas em casa.
- Mamã, por que razão temos de ficar em casa de quarentena? O que é isso?  – perguntou o Tiago, muito preocupado.
- A quarenta é um período em que todos devemos ficar em casa para assim podermos evitar a transmissão do vírus. Para que o vírus não se espalhe, todos devem ficar isolados e só sair de casa em caso de necessidade. – explicou a mãe.
- Olha, mamã, diz aqui no dicionário que «pandemia» significa «surto de uma doença com distribuição geográfica internacional muito alargada e simultânea.» O que é que isto quer dizer? – perguntou o Tiago, muito curioso.
- Significa que a doença apareceu de forma muito rápida e que, de repente, houve um aumento muito grande de pessoas infetadas com o vírus em todo o mundo! – respondeu a mãe.
- Oh! Isto é preocupante! Haver tantas pessoas infetadas em todo o mundo! Se eu pudesse, arranjava maneira de destruir este vírus e de levá-lo daqui para fora! – resmungou o Tiago.
- Não te preocupes, Tiago. Só temos de ficar em casa enquanto os cientistas tentam arranjar uma vacina e controlar a doença. Vamos todos ficar bem… - sossegou a mãe.
           As palavras da mãe ficaram a ecoar no ouvido do Tiago, e ele só pensava que tinha de arranjar maneira de acabar com o vírus. Enquanto pensava nisto, adormeceu e teve um sonho.
            Sonhou que era astronauta e que tinha um foguetão. «Vou apanhar o vírus maldito e vou levá-lo no meu foguetão para um planeta distante, o «Planeta Viral». No mundo dos sonhos, o «Planeta Viral» é a casa de todos os vírus maus que fazem com que as pessoas adoeçam.
           Depois de vestir o fato de astronauta, o Tiago partiu em busca do vírus espalhado por todo o mundo. Aterrou o foguetão em todos os continentes e, com a «Sugadora», conseguiu apanhar todos os vírus. A «Sugadora» era uma máquina inventada por um cientista muito conhecido, chamado Alberto Stein, e a quem o Tiago pediu conselhos antes de embarcar na aventura de sugar todos os vírus do mundo.
             Já com todos os vírus presos na máquina, partiu para o espaço. Durante a viagem, viu muitos planetas e estrelas. Para trás, conseguia avistar o Planeta Terra, pequenino e triste.
              «Alegra-te, Planeta Terra! Daqui a nada já me livro destes vírus malditos. Diz às pessoas que VA-MOS-TO-DOS-FI-CAR-BEM!»
             Enquanto gritava estas palavras, chegou ao terrível planeta dos vírus. O Planeta Viral só tinha rochas e um anel transparente a toda à volta no qual viviam os vírus. Aterrou o foguetão e pegou na «Sugadora» com todo o cuidado. A máquina tinha um grande tubo por onde passavam os vírus. «Agora só tenho de enfiar a outra ponta do tubo no anel e iniciar a descarga. Três, dois, um… desapareçam!»
              Não demorou muito até que o anel se enchesse de novos vírus. Eram todos feios, redondos e com uma espécie de tentáculos. Eram tantos e tantos que parecia que o anel ia explodir. Estavam todos à bulha uns com os outros. Uns eram mais fortes do que outros e, por isso, os mais fracos acabavam por morrer.
           «Morram, malditos! Agora vou embora para o meu Planeta Terra e, se tornarem a surgir novos vírus, podem ter a certeza que venho trazê-los aqui, porque o vosso lugar é aqui no Planeta Viral! Deixem o Planeta Terra em paz!».
          E o foguetão lá partiu, em direção à Terra, mas quando se preparava para aterrar… pumba! Ouviu-se um estrondo no ar e o Tiago acordou.
             - Mamã, mamã! – gritava enquanto procurava a mãe. Tive um sonho que parecia real!
             - Então, que sonho foi esse? – perguntou a mãe.
             - Sonhei que tinha conseguido apanhar todos os vírus do mundo e que os tinha levado para um planeta distante no meu foguetão. – explicou o Tiago muito entusiasmado.
              - Olha que boa ideia! Mandar os vírus para outro planeta! – disse a mãe sorrindo.
              - No meu sonho tinha uma máquina, a «Sugadora», que sugava e apanhava todos os vírus.
              - Olha, eu não tenho uma «sugadora», mas tenho um aspirador que é quase a mesma coisa. E se me viesses ajudar a aspirar o teu quarto? – perguntou a mãe.
              - Sim, mamã. Já vou…
          E enquanto ajudava a mãe a arrumar o quarto, o Tiago continuava a pensar na invenção do cientista Alberto e em como seria bom se houvesse uma máquina no mundo que aspirasse tudo o que faz mal às pessoas: os vírus, as doenças, a fome no mundo, as guerras…
Como seria bom se houvesse uma máquina que nos devolvesse os beijos, os abraços e a liberdade.

Sem comentários:

Enviar um comentário